Em tempos nos quais o individualismo, o materioalismo e a vaidade são identificados como valores capazes de caracterizar a nossa sociedade soa estranho flar sobre associativismo espontâneo. Principalmente , quando afirmamos que a iniciativa parte da juventude que é uma parcela da população estigmatizada, considerada alienada e vulnerável. Parece mais estranho ainda quando afirmamos que – em muitos casos – esse agir coletivo tem como fim provocar mudanças positivas na realidade. Para quem está na postura de observador participante, não há nada de estranho. Ao contrário, tudo parece natural, espontâneo e legítimo. O objetivo deste texto é trazer um olhar de dentro dessa movimentação da juventude, ou melhor, desse movimento de juventude. Compartilhar as reflexões realizadas por diversos grupos e organizações juvenis de várias partes do mundo sobre como eles se percebem e quais os desafios e perspectivas que apontam para a construção de um mundo melhor.
Primeiramente, faz-se necessário compreendermos o que vem a ser os grupos e as organizações juvenis. Os grupos juvenis se caracterizam como um conjunto de duas ou mais pessoas que se reúnem a partir de interesses comuns, afinidades e laços afetivos de forma espontânea, isto é sem indução. O grupo tem uma identidade, algo simbólico, que é compartilhada por todos os seus integrantes e que permite que os membros se auto-reconheçam como parte de um coletivo.
Há um processo dinâmico de formação e dispersão desses grupos e flexibilidade quanto ao seu foco de atuação que pode ser modificado ao longo do tempo. São grupos de skatistas, crew de grafiteiros, bandas de música, times de futebol, grupos de estudos, grupos literários, de teatro, de dança, entre outros. O grupo é o espaço em que o jovem se relaciona com seus pares, onde ele pode expressar seus pensamentos e sentimentos com liberdade, onde ele pode desenvolver parte significativa da sua percepção do mundo.
Esse associativismo juvenil nem sempre é visto com “bons olhos” pela sociedade que não percebe a singularidade de cada um desses grupos e tende a criar generalizações simplistas e estereótipos, apontando-os como “bandos”, “galeras”, “gangues”, entre outras denominações pejorativas.
“…nos querem todos iguais, assim é bem mais fácil nos controlar. E mentir, mentir, mentir, e matar, matar, matar o que tenho de melhor: minha esperança” (Renato Russo)
De maneira natural, muito desses grupos começam a estabelecer objetivos/propósitos comuns, compartilhados pelos seus integrantes e que lhes abrem caminho para a construção de uma metodologia de intervenção e atuação para alcançar esses objetivos comuns e compactuados. Podemos distinguir as organizações dos grupos juvenis principalmente pelas primeiras possuírem e perseguirem objetivos claros e compartilhados entre os seus membros.
É possível afirmar que a maioria das organizações juvenis, antes de poderem ser percebidas dessa forma, eram grupos juvenis. Essa transição não é simples, nem muito menos rápida. Para alguns grupos chegam ser traumáticas e frustantes e pode até ser identificada como o primeiro grande desafio a ser enfrentado…

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